terça-feira, fevereiro 14, 2006

De comboio até à Póvoa com partida da Boavista

Esta deveria ter sido a primeira entrada deste blogue,
mas ainda vai a tempo, e se alguém souber uma dica para alterar a ordem...

o texto que se segue foi o melhor que encontramos para dar a conhecer um pouco da história dos 131 anos da linha da Póvoa, e pode ser lido no sítio original do SINDEFER

vale a pena ler.



De comboio até à Póvoa com partida da Boavista
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Cumprem-se 125 anos sobre a inauguração da única via-férrea portuguesa de bitola estreita que (ainda) não foi fechada ou amputada

CARLOS SANTOS

Cumprem-se, exactamente, 125 anos sobre a inauguração da linha de caminho-de-ferro Porto-Póvoa de Varzim. Eram 11 horas do dia 2 de Outubro de 1875, quando, sob os sons da banda da Guarda Municipal, que tocava o hino ao rei D. Luís, a locomotiva a vapor "Rio Douro" lançou o primeiro silvo, na estação da Boavista. Um bilhete para o trajecto completo custava 300 réis, em segunda classe, e 480, em primeira. Ironia das ironias, a linha da Póvoa é, actualmente, a única via-férrea portuguesa de bitola estreita que não foi encerrada ou amputada. Mas não por muito tempo: o metro de superfície do Porto será o seu carrasco...

Estação na Rua do Rosário
Corria o ano de 1873, quando a concessão da via foi entregue ao engenheiro Ellicot e ao barão de Kessler. Com o seu quê de curioso, o projecto não previa uma estação na Boavista, antes uma linha que, vinda de Francos, seguia para o Carvalhido e para a Rua do Rosário, onde se situaria o terminal. Só que a Câmara Municipal do Porto indeferiu o requerimento, mantendo a Boavista como ponto de partida.
Os primeiros trabalhos de construção, divididos em 14 lotes, iniciaram-se a 2 de Setembro de 1873. Passados apenas 50 dias, já estavam prontos seis quilómetros, de um total de 28, em bitola (distância entre carris) de 90 centímetros.
Aliás, as obras desenrolaram-se de forma célere, demorando apenas 25 meses, tempo suficiente, contudo, para conhecer alguns percalços. Um deles foi o levantado pela Câmara Municipal de Vila do Conde, que queria uma indemnização que compensasse as perdas de receita. É que a autarquia cobrava uma portagem a quem passasse na ponte sobre o rio Ave e a construção da linha-férrea ia estragar-lhe o "negócio". Daí que inviabilizou os pedidos de autorização de assentamento.
A "guerra" tripartida - Câmara, companhia construtora e Governo - só terminou com a intervenção real. "Sua Majestade El-Rei manda que, devendo o caminho do ferro do Porto à Póvoa de Varzim ser construído em leito próprio, como se vê do decreto de 19 de Junho de 1873, não havia, nem há, necessidade de solicitar à Câmara licença alguma, bastando à empresa a concessão do Governo". E a linha lá prosseguiu o seu caminho, rumo à Póvoa de Varzim que, segundo um censo da altura, contava 8.758 habitantes e 2.224 fogos.
Mas a história da linha Porto-Póvoa, cuja construção custou 450 contos, não se encerra com a sua inauguração. Já na posse da Companhia do Norte, observou-se, em 1930, a necessidade de ampliar a bitola para um metro, de forma a uniformizar a via estreita, atendendo, sobretudo, a que as linhas da Senhora da Hora a Matosinhos (já faz parte do passado) e da Senhora da Hora à Trofa (ainda não existia a continuidade até Guimarães) eram de um metro.

Rebitolagem complexa
A tarefa de alargar a via em dez centímetros revelou-se complexa, uma vez teria de ser cumprida sem interrupção da circulação. De entre quatro projectos, optou-se pelo afastamento, em cinco centímetros, dos dois carris, de forma a não deslocar o eixo da via, em relação à plataforma de sustento.
Os trabalhos, quase todos realizados à força dos braços, duraram apenas 17 dias, apesar de, então, a linha já contar 57,5 quilómetros, uma vez que havia sido prolongada até Famalicão, para dar ligação à Linha do Minho. Às 17 horas do dia 31 de Março de 1930, chegava à Boavista o primeiro comboio de via de um metro, sem que os passageiros fizessem transbordo.
Para além do trabalho de alargamento de dez centímetros, idêntica tarefa foi preciso aplicar aos rodados de 17 máquinas a vapor -algumas delas tiveram de ser desmontadas! -, de 68 carruagens (nove de "boggies") e de 86 furgões e vagões, de dois eixos.
Oito anos depois, nasceu a estação da Trindade, dada a necessidade de chegar ao centro do Porto. Se a linha da Póvoa conhecera obras de engenharia de vulto, como as pontes sobre os rios Leça e Ave, ficou enriquecida com o túnel da Trindade.
Recuando um pouco no tempo, refira-se que a construção do troço Boavista-Trindade foi autorizada em 20 de Janeiro de 1913. Até que fosse possível ver-se a luz no fundo do túnel (da Trindade), esperou-se 25 anos!
As obras apenas começaram em 27 de Outubro de 1930. Obras complexas, já que a linha atravessa um forte tecido urbano. A maior complexidade surgiu, exactamente, na construção do túnel da Trindade, dado como pronto em 29 de Outubro de 1938. Um dia depois, era inaugurada a estação provisória da Trindade, um edifício abarracado, a 200 metros da Câmara do Porto.
Com a abertura da estação da Trindade, a da Boavista foi perdendo importância, substituída pelo apeadeiro da Avenida da França. Hoje, o belo edifício da Boavista alberga uma dependência bancária.

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